Catarinense que perdeu a memória nos EUA se reapaixonou pela esposa: ‘História de filme’
Raphael e Jéssica estão juntos há 11 anos. Em 2022, após ser atropelado, ele perdeu a memória e esqueceu a esposa. Mas acabou se reapaixonando por Jéssica durante o tratamento.
O romance vivido por Adam Sandler e Drew Barrymore em 50 First Dates (2004), ou “Como se Fosse a Primeira Vez” no Brasil, era o meu o filme favorito da adolescência. O amor romântico vivido por Henry e Lucy poderia ter ficado só na ficção, se não fosse pela história do catarinense que perdeu a memória e se emocionou lembrando de uma música da infância.
Tudo o que aconteceu ao longo de duas décadas foi deletado da memória de Raphael Campos depois que ele foi atropelado por um carro enquanto passeava com os cachorros, em 2022. Ele e a esposa, Jéssica de Souza, vivem em Norwood, no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos, onde o acidente aconteceu. De lá para cá, o casal vive um amor digno da sétima arte.
O caso de Raphael se tornou conhecido após um vídeo dele viralizar nas redes sociais. Na imagem ele chora ao se lembrar da letra de “Casinha”, do cantor Armandinho. O vídeo foi publicado por Jéssica, que compartilha a rotina de recuperação nas redes sociais.
A lista de traumas sofridos pelo catarinense que perdeu a memória é imensa: hemorragias em diferentes partes do corpo, incluindo o cérebro; fraturas ósseas no rosto, coluna e membros; traumatismo cranioencefálico; e o principal, que mudou para sempre a vida de Raphael: comprometimento de memória e cognição.
Aos 35 anos, as lembranças da vida antes do acidente são escassas e incongruentes — algumas da infância, outras da adolescência. O catarinense que perdeu a memória ficou em coma por dez dos 45 dias que passou internado. Segundo os médicos, a chance de sair daquele estado era inferior a 10% e tudo o que acontecesse, depois que ele abrisse os olhos, já seria considerado um milagre.
Nesta entrevista on-line para o ND Mais, Raphael e Jéssica contaram como convivem com as sequelas do trauma e como foi passar por todo processo de recuperação, após o acidente. Esse período incluiu, também, a reaproximação — ou melhor, a reapresentação — do casal, visto que Raphael esqueceu até da própria esposa, por quem voltou a se apaixonar durante o tratamento.
Após a internação, ao invés da esposa, Jéssica, com quem já vivia há quase uma década, Raphael imaginava que se tratava de uma enfermeira desconhecida. Filho único, o catarinense que perdeu a memória aproveitava as ligações com a mãe, que ainda vive no Brasil e de quem lembrava, para tentar entender quem era a mulher com quem ele morava.
“Ela cuidou de mim enquanto eu estava no hospital, eu lembro alguma coisa de lá. Quando eu vim para casa, eu vim para a casa dela. Ela fazia tudo para mim, então, para mim especificamente, ela era a minha enfermeira”, contou o catarinense que perdeu a memória ao ND Mais.
Depois de quatro meses de convivência, Raphael tomou coragem e resolveu ir direto ao ponto com a roommate. “Eu fui lá e perguntei para ela: mas quem tu é, de onde, quando, como? Ela disse: eu sou tua mulher e eu disse: não acredito nisso, tu é minha mulher? Eu olhei e disse: não pode, não pode, é muito bonita para mim”, contou Raphael, rindo da situação.
‘A parte dela era: uau’, brinca catarinense que perdeu a memória
A convivência fez com que Raphael, hoje com 35 anos, começasse a olhar para Jéssica, de 32, de uma forma diferente. Ele passou por diversos médicos, de diferentes especialidades e até hoje faz acompanhamentos semanais com psiquiatra, fonoaudióloga e outros especialistas.
O cuidado da mulher para com ele despertaram sentimentos que, devidas às sequelas do acidente, foram difíceis de serem assimilados inicialmente. Raphael chegou a pensar que tivesse se apaixonado pela enfermeira que cuidava dele.
“Para mim, eu tinha me apaixonado pela enfermeira. Depois, do nada, ela resolveu que era minha mulher, mas eu me apaixonei pela enfermeira”, disse rindo durante a nossa entrevista. “Que bom que ele escolheu esta enfermeira”, brincou Jéssica.
Sequelas invisíveis
Apesar de terem uma rotina normal, com passeios e compromissos diários, Raphael e Jéssica evitam ir a alguns lugares para evitar situações desconfortáveis provocadas pela afasia. Segundo o Ministério da Saúde, a disfunção é provocada por danos cerebrais e faz com que o paciente tenha dificuldade de se comunicar adequadamente.
Lidar com emoções, ter empatia e se expressar de forma clara são algumas das características do transtorno. Eventualmente, essas dificuldades se transformam em desafios para o catarinense que perdeu a memória. Mesmo bastante descontraído durante a entrevista, Raphael não consegue sentir empatia e nem compreender posicionamentos adversos.
“A maior parte são ‘sequelas invisíveis’, ou seja, as pessoas percebem que ele tem limitações do lado direito, mas não que ele passou por tudo aquilo. Ele perdeu a independência dele, não pode dirigir ou trabalhar, perdeu 50% da visão em cada olho e perdeu totalmente a habilidade de filtrar qualquer as coisas. As emoções são misturadas e ele não consegue entender como algo pode ser triste para algumas pessoas”, contou Jéssica de Souza à reportagem.
Jéssica é natural de Florianópolis, em Santa Catarina, e Raphael, de São José, na Grande Florianópolis. Antes de morar nos Estados Unidos, onde estão há oito anos, viveram por quatro anos em Curitiba. Mesmo juntos há quase 12 anos, “tudo é novo” não só para o catarinense que perdeu a memória, mas para a esposa, que teve que aprender a lidar com a “nova versão” do marido.
“Eu sempre tive muita paciência e fui notando, no começo, mudanças na personalidade dele. Às vezes, eu ia para ele e falava assim: olha, Rapha, deixa eu te mostrar essa foto, tu não lembra disso daqui? Ou ele chorava, ou ele ficava brabo, não queria ver. Hoje entendo porque era uma frustração tentar lembrar de uma coisa e não conseguir”, revelou Jéssica, que entrou em grupos de apoio para aprender a lidar melhor com a situação.
“Não era justo comigo e com ele ficar comparando o ele de agora com ele anterior. Foi uma escolha minha ficar, de amá-lo novamente”, afirmou Jéssica.
‘Tudo ficou mais difícil, mas não impossível’
Quando Raphael teve alta dos cuidados diários, o processo de retomar a própria dependência, agora com algumas limitações, foi um processo difícil para o catarinense que perdeu a memória. O medo do abandono e da solidão eram constantes a ponto de causar medo até mesmo de dormir na ausência da esposa.
“Depois que ela começou a trabalhar, eu comecei a acordar e querer ficar acordado o dia inteiro. Foi difícil o contexto inteiro, mas não impossível. Tudo ficou difícil, mais difícil, mas não impossível”, contou Raphael. “Nos primeiros meses, toda vez eu chegava em casa, ele me recebia na porta e chorava, falava: eu achava que você não ia voltar”, relembrou Jéssica na entrevista.
Em novembro de 2025, o acidente do catarinense que perdeu a memória completa três anos. Raphael não lembra do trabalho que tinha nas áreas de T.I. e da construção civil, da vida que levou no centro de Curitiba e nem das visitas que fazia a Jéssica na Trindade, em Florianópolis.
As visitas de turismo a diferentes países e a mudança em definitivo para os Estados Unidos, hoje, vivem apenas nas fotos guardadas pela esposa.
Jéssica concilia a vida de groomer (tosadora) com passeios a parques, zoológicos e museus com o marido. Enquanto ela está no trabalho, de terça-feira a sábado, Raphael joga no computador, lê por cerca de uma hora e dá uma volta na quadra com os cachorros, Puppy Maria e Popo James Jr. Ele faz o mesmo trajeto todos os dias, mas usa uma pulseira com o endereço caso venha a esquecer.
A perda de memória recente também faz com que, diariamente, ele não lembre das etapas dos jogos Tibia (1997) e Magic (2018), que desbrava na ausência da esposa. Ele joga “o que tem para jogar”, mas estes são os preferidos do momento — o mais antigo, ele conhece desde 2004 e, por isso, quando voltou “a realidade”, já conhecia.
“O jogo já estava na minha cabeça, não sei como, mas já estava lá. Agora, o físico, do meu lado direito, não é muito bom, para mexer a mão não é tão rápido. Para mexer no teclado, no mouse, que é o fluxo do jogo, eu tive que trabalhar isso. Não está perfeito ainda, mas está bem melhor”, contou ao ND Mais. A atividade foi trabalhada em terapia e funciona como uma espécie de fisioterapia para o lado direito do corpo, que sofre com uma paralisia.
A perseverança do marido e a capacidade de demonstrar amor, mesmo com todas as limitações causadas pelo atropelamento, são as características que Jéssica mais admira em Raphael. Para ele, a paciência da esposa é o fator que mais lhe chama atenção. Após esquecer qual foi a pergunta feita pela reportagem, Raphael, de forma mais suscita, disse que Jéssica “mais do que bonita, é humana demais”.
O distúrbio que limita raciocínios complexos fez com que Raphael não conseguisse elaborar uma frase de efeito para a última pergunta da entrevista, mas não impediu que as expressões faciais e os gestos de algo que não cabe no peito transbordasse através do vídeo. Assim como no filme, eventualmente, é preciso enxergar a vida através de outras perspectivas para lembrar que é possível acreditar no amor como se fosse a primeira vez.
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