27 de outubro de 2025
Tivi Entrevista

Delegado catarinense utiliza ferramentas de IA para otimizar investigações e alerta: “Desconfie de tudo na internet”

Para Meurer, tanto a IA quanto o hardcode — códigos de programação para automação — são hoje essenciais nas investigações modernas.

Por Redação TiviNet

Atualizado em 20/10/2025 | 17:22:00

A tecnologia está transformando a rotina das investigações policiais, e a Inteligência Artificial (IA) já é parte desse novo cenário. O delegado Alexander Meurer, da Polícia Civil de Santa Catarina, criador das ferramentas Delta Digital e Tex.Thor, é um dos nomes que vêm liderando essa transição tecnológica dentro da segurança pública.


A origem do Delta Digital e do Tex.Thor

A ideia, segundo Meurer, nasceu da necessidade de otimizar tarefas e reduzir a sobrecarga diária enfrentada por delegados. “Não temos assistentes, assessores ou estagiários voltados à nossa atividade-fim. Foi na inteligência artificial que encontrei a solução ideal. Agora, não sou mais sozinho na tomada de decisões”, explica.

O Delta Digital, além de um software, também se tornou um curso voltado à aplicação prática de IA na rotina policial. Já o Tex.Thor surgiu da frustração com ferramentas de transcrição disponíveis no mercado. “Antes, eu passava horas transcrevendo; agora, bastam alguns cliques”, afirma.


IA e hardcode aceleram a análise de dados

Para Meurer, tanto a IA quanto o hardcode — códigos de programação para automação — são hoje essenciais nas investigações modernas.

“Estou desenvolvendo um sistema para analisar extrações de celulares com milhares de mensagens, áudios e imagens. Antes isso levava semanas; agora, leva apenas algumas horas”, destaca.

O delegado explica que, em investigações com grande volume de dados, essas tecnologias permitem ao policial focar na interpretação dos resultados, enquanto o sistema realiza o trabalho mecânico.


Desafios éticos e o sigilo de dados

Mesmo com os avanços, o uso da IA traz preocupações. “O principal desafio é o sigilo de dados. Apesar das legislações e contratos rígidos, sempre há um ‘porém’ sobre onde nossas informações vão parar”, observa.

Do ponto de vista ético, ele aponta um dilema crescente: “A grande questão será o que vai sobrar para o ser humano fazer”.


Um caminho sem volta nas polícias brasileiras

Meurer acredita que o uso de ferramentas inteligentes será inevitável. “No século retrasado tivemos a revolução industrial; depois, a da internet. Agora é a vez da inteligência artificial: quem não se adequar, inevitavelmente ficará para trás”, afirma.

Para ele, essa transformação exigirá das polícias civis um processo de atualização constante e reestruturação de processos internos.


Golpes e deepfakes: o outro lado da IA

Se por um lado a IA auxilia nas investigações, por outro, também está sendo usada por criminosos. “Estamos apenas vivendo o começo de uma longa era de golpes com uso de voz e face clonada”, alerta o delegado, citando ferramentas como Sora, da OpenAI, e Veo, da Google, que permitem gerar vídeos realistas em tempo real.

“É o preço a se pagar pela evolução”, reflete. Para ele, o foco das forças de segurança deve ser a prevenção. “Orientar a população sobre como se proteger tem sido a melhor alternativa para reduzir fraudes.”


Dicas práticas para evitar golpes

Com base em sua experiência, Meurer é direto: “Desconfie de tudo”.

Ele cita exemplos cotidianos: “Sua mãe trocou de telefone, desconfie. Recebeu mensagem da Receita Federal, desconfie. Procurou no Google como pagar um boleto vencido, desconfie. Duvidar de tudo na internet já é obrigação”, aconselha.


O futuro tecnológico da Polícia Civil de Santa Catarina

Reconhecida por seu pioneirismo em inovação, a Polícia Civil de Santa Catarina deve continuar investindo em IA e automação.

“O trabalho de um policial nunca será substituído, mas a apresentação de dados pode ser moldada a ponto de gerar absoluta eficiência”, afirma Meurer.


Atendimento com agentes virtuais

O delegado já projeta o próximo passo: o uso de agentes virtuais nas delegacias.

“Pretendo criar um assistente que converse com as pessoas, coletando elementos iniciais de um caso ou até conduzindo oitivas inteiras”, revela.


O perfil do policial do futuro

Para Meurer, o avanço tecnológico está dividindo os criminosos em dois tipos: o físico e o virtual.

“Para o primeiro, o perfil do policial pouco muda. Mas para o segundo, é preciso atualização constante — dominar IA, criptografia, moedas virtuais e tudo o que permite alguém se esconder no emaranhado da web”, explica.


Educação digital e presença nas redes

Com forte presença nas redes sociais, Meurer tem como missão aproximar a população das novas tecnologias.

“Meu intuito é facilitar a transição entre o mundo físico e o virtual das IAs. Não se trata mais de querer usar inteligência artificial, e sim de aprender a usar para não ficar atrasado nesse admirável novo mundo”, ressalta.


Mensagem aos jovens

Encerrando, o delegado deixa um recado para quem sonha em seguir carreira na Polícia Civil.

“Precisamos de jovens com mentalidade aberta, dispostos a mudar a instituição e adaptar a segurança pública aos novos desafios tecnológicos. A IA já está na nossa porta — é hora de abri-la”, conclui.


 

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