10 de novembro de 2025
Gerais

'Sem florestas, as cidades ficam mais vulneráveis', diz climatologista sobre tornado no Paraná

Francisco Assis Mendonça explica que o desmatamento e o aquecimento global intensificam fenômenos como o tornado que atingiu Rio Bonito do Iguaçu na noite de sexta-feira (7).

Por G1/PR

Atualizado em 10/11/2025 | 10:11:00

O tornado que atingiu Rio Bonito do Iguaçu, no centro-sul do Paraná, na noite de sexta-feira (7), é resultado de fenômenos climáticos que têm se tornado mais frequentes e intensos no estado, segundo o climatologista Francisco Assis Mendonça, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Para o pesquisador, o avanço do desmatamento e o aquecimento das águas do oceano eliminam o anteparo natural contra os ventos fortes, o que deixa as cidades mais vulneráveis a ciclones e tornados.

“As matas são o anteparo natural contra a força dos ventos. Sem elas, os fenômenos se formam mais rápido, mais fortes e chegam às cidades. Sem florestas, as cidades ficam mais vulneráveis”, explica Mendonça.

Segundo ele, o Paraná é especialmente vulnerável porque perdeu quase toda sua cobertura original de floresta.

“Em 1890, o estado era coberto de mata atlântica, araucária e campos gerais. Hoje, temos menos de 5% de mata natural. Em volta de Rio Bonito do Iguaçu, cerca de 60% da mata foi retirada”, afirma.

Mendonça reforça que o desmatamento amplia a força destrutiva dos ventos.

“O que acontece é que os ventos se formam naturalmente, mas ganham força em uma paisagem cada vez mais desprotegida. Há agricultura em centenas de quilômetros, sem anteparo de florestas nem montanhas. É algo cientificamente compreensível, mas que mostra o descaso com a preservação ambiental”, avalia.

Fenômenos mais intensos

O climatologista explica que eventos como o tornado do último fim de semana ocorreram em outras épocas, mas estão se tornando mais comuns e intensos com o aquecimento do planeta.

“Esses fenômenos sempre aconteceram em regiões tropicais e subtropicais, mas agora ocorrem com muito mais frequência. O ano passado foi um dos mais quentes da história da Terra, e este também está sendo. As águas do oceano se aquecem e injetam mais vapor no ar, o que torna a atmosfera mais turbulenta”, diz.

De acordo com ele, o encontro entre o ar quente e o ar frio é o principal gatilho para a formação de ciclones e tornados.

“O Paraná está na linha do Trópico de Capricórnio, onde há o embate constante entre o ar quente tropical e o ar frio polar. Nas estações de transição, como primavera e outono, esses contrastes são maiores e favorecem a formação desses eventos”, explica.

Reflorestamento e cidades mais resilientes

Para reduzir os impactos, o climatologista defende o reflorestamento e o planejamento urbano voltado à adaptação climática.

“A principal medida é restaurar as áreas degradadas, especialmente vales e encostas. As cidades também devem ter bolsões de mata ao redor para reduzir a força dos ventos. Dentro delas, parques e ruas arborizadas são fundamentais. Uma cidade verde é mais fresca, tem mais umidade e sofre menos com os ventos”, completa.

Para Mendonça, a prevenção depende de ações conjuntas e de longo prazo.

“Podemos pensar em arquitetura mais aerodinâmica e sustentável, mas o essencial é o reflorestamento regional. Sem pensar na escala regional, as cidades não conseguirão enfrentar esses fenômenos”, conclui.

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