Tivi São Lourenço, 29 de março de 2024
Gerais

Médicos removem 62 larvas que 'comiam' cabeça de homem em SP

Homem foi levado à UPA de Peruíbe para 'dia de beleza' mas, ao cortar o cabelo, médico percebeu que ele estava sendo 'devorado vivo' por larvas.

Por G1

Atualizado em 06/11/2019 | 13:04:00

Com mais de 60 larvas dentro da própria cabeça, um morador de rua deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Peruíbe, no litoral de São Paulo, após ser resgatado por equipes da Guarda Municipal da cidade. Na unidade, além do tratamento médico contra a enfermidade, o paciente recebeu também um 'dia de beleza' e voltou para a casa de seus familiares.

O médico Bruno Chehade Pereira foi quem recebeu o morador de rua na UPA. Em entrevista nesta quarta-feira (6), ele explicou que, quando recebeu o rapaz, também identificado como Bruno, não imaginava que ele se encontrava com berne avançada, uma infestação na cabeça causada pela larva da mosca Dermatobia hominis.

"Um amigo meu da Guarda Municipal me ligou pedindo ajuda. Ele perguntou se poderia mandar o morador de rua para a UPA pois ele estava muito mal. Eu disse que não tinha problemas. Achamos que seria só para dar um trato nele, cortar cabelo, dar um banho, mas quando começamos o corte vimos que tinha muito piolho e começou a sair uma secreção do couro cabeludo", relembra.

A ideia era fazer um corte de cabelo 'bacana', mas ao constatar o quadro de berne, o médico precisou raspar todo o cabelo do paciente para ver a gravidade. Segundo ele, as larvas estavam 'comendo' o couro cabeludo do homem. Foi então que a equipe inseriu uma medicação para que as larvas saíssem de dentro da cabeça do morador de rua e pudessem ser retiradas.

"Foi um trabalho manual. A equipe de enfermagem tirou uma a uma. No total, foram 62 larvas que tiramos com a pinça. Depois disso, acolhemos ele, fizemos a internação e continuamos acompanhando. Demos banho, tratamos e conseguimos encontrar a família para que eles viessem buscá-lo", diz.

Cinco pessoas, entre Guarda Municipal, médicos e enfermeiros, trabalharam no 'mutirão' para que o morador de rua tivesse o seu 'dia de beleza'. Segundo Chehade, foram cinco horas fazendo o tratamento da doença, dando banho e cortando o cabelo.

Depois de retirar as larvas e passar pela 'repaginada', Bruno voltou para a casa da família, que mora em Peruíbe. Ele recebeu alta e continuou tomando antibiótico. Segundo apurado, ele é alcoólatra e cata latinhas nas ruas da cidade para sobreviver.

Atendimento humanizado

Chehade, que já foi médico do Exército, da Polícia Rodoviária Federal e atualmente trabalha na emergência da UPA, além de atuar como cirurgião estético, já fez diversos atendimentos humanizados na UPA de Peruíbe. "Já passei por muitas dificuldades e sei que, às vezes, as pessoas precisam apenas de um pouco de atenção. É muito mais do que um medicamento."

O médico ainda explica que o morador de rua estava sendo 'devorado vivo' pelas larvas e que, se não recebesse atendimento rápido, poderia ter uma infecção disseminada e, até mesmo, morrer. No começo, o homem parecia arisco, estava com medo, mas foi o 'jeitinho' de Chehad, e de toda a equipe médica que 'amoleceu' o coração do paciente.

"Se eu não puder curar, tento aliviar o sofrimento das pessoas. Começamos o trabalho mostrando para ele que queríamos só fazer o bem e cortar o cabelo. Com o tempo, ele foi ficando mais tranquilo e, no final, saiu todo sorridente e fez até um 'joinha' pra gente. Foi muito gratificante", finaliza.

Berne

Berne, tapuru ou dermatobiose é uma infecção produzida por um estágio larval, tipo de doença conhecida da mosca Dermatobia hominis, popularmente conhecida no Brasil como mosca-berneira, que infecta diversos animais.

A berne em humanos surge quando a larva da mosca entra debaixo da pele, através de feridas ou arranhões, causando o surgimento de uma ferida na pele que pode coçar, provocar dor ou inchaço e vermelhidão na pele.

Geralmente, as larvas surgem no interior da pele dos indivíduos porque a mosca berneira deposita seus ovos sobre feridas existentes na pele e, ao fim de algum tempo, as larvas nascem e começam a se desenvolver, alimentando-se da 'carne' do indivíduo.

A berne tem cura e o tratamento deve ser orientado por um médico para remover a larva do interior da pele. Caso a berne em humanos não seja devidamente tratada, pode levar a agravamento dos sintomas, já que a larva tem capacidade de sobreviver a mais de 1 mês dentro da pele de um certo indivíduo.

NOTÍCIAS RELACIONADAS