13 de outubro de 2025
Gerais

Cobrança de propina em estradas no Paraná: Policial preso em operação tentou atrapalhar a investigação e foi afastado da corporação há quatro meses

Investigação apontou que Reginaldo Pedroso recebeu cerca de R$ 47 mil de forma ilegal. Outros 10 policiais rodoviários estaduais também foram afastados da função durante a operação.

Por G1/PR

Atualizado em 10/10/2025 | 11:16:00

O policial rodoviário estadual preso durante a operação Rota 466, é Reginaldo José Pedroso, que atuava no batalhão regional de Guarapuava, na região central do Paraná. Ele é suspeito de fazer parte de um esquema criminoso envolvendo agentes que pediam propina a motoristas em estradas estaduais.

Essa e outra operação denominada como Via Pix, foram realizadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Paraná (MP-PR) na terça-feira (7). Nelas, outros 10 policiais rodoviários estaduais foram afastados da função, sendo nove são da região de Ponta Grossa, nos Campos Gerais, e um de Guaraniaçu , no oeste do estado, e 30 mandados de busca e apreensão foram cumpridos.

A RPC, afiliada da TV Globo no Paraná, apurou que Reginaldo entrou na Polícia Militar em 2001. Ele chegou a ser comandante do posto rodoviário em Guarapuava. Na primeira fase da operação, há 4 meses, ele atuava no Batalhão da Patrulha Escolar e foi afastado das atividades de policiamento.

De acordo com as investigações, o ex-comandante recebeu cerca de R$ 47 mil de forma ilegal. Quando o MP e o Gaeco passaram a monitorá-lo, descobriram que ele estava tentando atrapalhar o trabalho dos investigadores.

Segundo o MP, o dinheiro da propina ia para contas de empresas ou de pessoas físicas, que eram usadas como laranjas. A contabilidade era feita pelos policiais por meio de aplicativos de mensagens.

Conforme a investigação, a estimativa é de que o grupo recebeu R$ 140 mil desde março deste ano.

O g1 aguarda retorno da defesa do policial. Os nomes dos suspeitos não foram oficialmente revelados. O g1 tenta identificar as defesas deles.

Conforme o promotor Antônio Juliano Albanez, no momento, um dos objetivos é identificar outros policiais que participavam do esquema.

"A gente quer identificar se havia outros policiais participando disso e também outras pessoas, no caso da lavagem de dinheiro. Provavelmente, esses dados serão buscados agora no material que foi apreendido", explicou.

Vídeos obtidos pela investigação referente a policiais rodoviários estaduais suspeitos de cobrar dinheiro de motoristas para evitar multas no Paraná mostram o esquema em ação.

Em um deles, é possível ver que o agente público aborda um caminhoneiro e, após conversar com ele, pega o próprio celular e abre um QR code. Na sequência, o caminhoneiro abre um aplicativo de banco, os celulares são aproximados, e após o motorista mostrar a tela do próprio celular ao policial, é liberado da blitz. Assista acima.

Segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Paraná (MP-PR), que foi responsável pelas investigações, o QR code para pagamento em Pix era oferecido aos motoristas quando eles afirmavam não ter dinheiro em espécie para pagar a propina.

O Gaeco também descobriu que em trechos das rodovias onde não havia área de celular, os policiais ofereciam a internet do próprio celular e/ou o wi-fi do posto do batalhão da polícia para os motoristas efetuarem o pagamento.

Segundo o órgão, pelo menos 100 vítimas foram identificadas durante as investigações, sendo que a maior parte são caminhoneiros.

"Ele pediu dinheiro para mim. Eu falei: 'Eu não tenho'. Aí ele falou: 'Então você faz pelo menos um Pix, senão eu vou te multar'. E a multa era pesada! Aí eu peguei e fiz, e fui embora. Se não, ele disse que podia até me prender o caminhão", disse uma das vítimas, em depoimento.

Em nota, a Polícia Militar do Paraná afirmou que "a corregedoria-geral acompanha todas as diligências de forma presencial, assegurando a transparência e a legalidade dos procedimentos".

Segundo o MP-PR, uma das investigações aponta que os policiais exigiam propina de condutores flagrados por infrações de trânsito ou de pessoas que trabalhavam com salvamento de cargas tombadas, configurando possíveis crimes de concussão, corrupção passiva e lavagem de ativos.

Além disso, afirma o órgão, foram descobertas outras pessoas físicas e jurídicas que realizavam a lavagem dos valores de propina por meio de suas contas bancárias, que também foram alvos de busca.

"Um ex-comandante do Posto de Polícia Rodoviária de Guarapuava, que já tinha sido alvo da primeira fase da operação, foi preso preventivamente. Após a deflagração das investigações, descobriu-se que ele praticou inúmeros outros crimes de corrupção, recebendo pelo menos R$ 47 mil de propina, além de ter tentado atrapalhar as investigações, dificultando a colheita de provas".

Neste caso, o 4º Comando Regional da Polícia Militar foi procurado por motoristas profissionais que relataram estarem sendo extorquidos por policiais rodoviários na região de Piraí do Sul.

"A apuração revelou uma estrutura sofisticada de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo os policiais militares, empresas e civis. Durante a fiscalização das rodovias estaduais, em blitz ou em frente aos postos policiais, os investigados exigiam vantagens indevidas de motoristas sob os mais diversos pretextos, muitos deles sem qualquer base legal, e somente liberavam os veículos após o pagamento, que poderia ser em dinheiro ou por meio de transferências bancárias por Pix, geralmente para contas 'laranjas' de empresas e civis", explica o MP-PR.

O que disse a Polícia Militar

Veja, na íntegra, a manifestação da PM-PR sobre o caso:

"A Polícia Militar do Paraná informa que, na manhã desta terça-feira (07/10), o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), força-tarefa composta pelo Ministério Público, Polícia Militar e Polícia Civil, deflagrou uma operação nos municípios da região dos Campos Gerais e Centro-Sul do Estado. O trabalho foi conduzido pelos núcleos do GAECO de Ponta Grossa e Guarapuava, com apoio irrestrito da Corregedoria-Geral da Polícia Militar e participação ativa do Comando Regional da PM em Ponta Grossa (CRPM). A ação teve como objetivo o cumprimento de mandados judiciais relacionados a investigações conduzidas pelo Ministério Público do Paraná. Até o momento, dez militares estaduais foram afastados de suas funções e um mandado de prisão foi cumprido. A Corregedoria-Geral da PMPR acompanha todas as diligências de forma presencial, assegurando a transparência e a legalidade dos procedimentos. Outras informações serão divulgadas exclusivamente pelo Ministério Público do Estado do Paraná, responsável investigação."

 

 

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